Justiça Global participa de visita técnica conjunta ao Complexo Prisional do Curado, em Pernambuco

Ação retoma agenda de compromissos da Caravana de Direitos Humanos.

Um grupo formado por representantes dos governos federal e estadual, do sistema de justiça, de universidades, de organizações de direitos humanos – entre elas, a Justiça Global – e do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT) realizou uma visita técnica ao Complexo Prisional do Curado, no bairro de Sancho, em Recife–PE, entre os dias 26 e 27 de maio. 

O estabelecimento de privação de liberdade é objeto de medida provisórias junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos desde 2011, sob denúncia da Justiça Global e do Serviço Ecumênico de Militância nas Prisões (Sempri), das péssimas condições de encarceramento, incluindo superlotação, más condições de alimentação, mortes violentas, o insuficiente à água potável, entre outras violações.

Além da inspeção nos locais, foi realizada uma série de reuniões entre os diferentes setores, incluindo familiares das pessoas privadas de liberdade, sobre a situação do Complexo Prisional e as medidas necessárias para adequação às medidas estabelecidas na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 347 do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconhece o estado de coisas inconstitucional do sistema prisional brasileiro, e para a implementação do Plano Nacional Pena Justa, que visa garantir tratamento digno e respeito aos direitos fundamentais das pessoas privadas de liberdade.

A programação incluiu reuniões com representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais, universidades, órgãos do sistema de Justiça e do governo estadual. Estiveram presentes representantes de instituições e entidades, como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Justiça Global, o Serviço de Militância nas Prisões, a Pastoral Carcerária, o Gabinete de Assessoria Jurídica Organizações Populares (GAJOP), a Defensoria Pública da União e Estadual, o Ministério Público Federal, o Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJ-PE) e a Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos.

As pesquisadoras Monique Cruz e Luna Ribeiro, que atuam no programa de enfrentamento à violência institucional e segurança pública da Justiça Global, comporam a comitiva. 

Durante a missão, um dos espaços visitados foi o recém-inaugurado Presídio Policial Penal Leonardo Moura Lago, situado dentro do Complexo do Curado. O MDHC tem recebido denúncias frequentes sobre a unidade por meio do Disque 100, inclusive sobre uma morte violenta ocorrida no local cerca de uma semana antes da visita. Um relatório sobre a visita está em fase de elaboração e será apresentado posteriormente.

De acordo com relatórios do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), as principais violações encontradas nas unidades prisionais do país incluem superlotação, más condições de alimentação, mortes violentas, o insuficiente à água potável, precariedade na assistência à saúde e dificuldades no o à defesa jurídica.

Em 2024, após visita do Ministério dos Direitos Humanos durante asCaravanas dos Direitos Humanos, ao Complexo Prisional do Curado, o órgão apresentou uma proposta para o plano de contingência ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNP).

Caravanas de Direitos Humanos: Justiça Global acompanha visita do ministro Silvio Almeida ao Complexo do Curado, em Pernambuco

O plano incluia medidas como o controle de vagas, a entrada e saída de internos, capacitações específicas e o monitoramento das atividades dos policiais penais, além de investimento no enfrentamento de questões estruturais, como a melhoria das condições de salubridade e da arquitetura das unidades prisionais, além da oferta de oportunidades de trabalho para a reintegração dos detentos. 

Coordenadora do Sempri é homenageada em audiência sobre prevenção e combate à tortura no estado

No último dia 15 de maio, a coordenadora do Sempri, Wilma Melo, foi homenageada em audiência pública da Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco para discutir como está a prevenção e o combate à tortura nas unidades prisionais, socioeducativas e demais espaços de privação de liberdade do estado. O evento teve participação do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, que lançou, na ocasião o Relatório da Missão de Inspeções do Mecanismo Nacional, realizada ano ado em Pernambuco — documento essencial para compreender as condições das unidades e os desafios, especialmente com o Mecanismo Estadual ainda desmantelado, o que amplia o risco de violações de direitos humanos. Um voto de Aplauso pelos anos dedicados à luta em defesa das pessoas privadas de liberdade foi entregue à Wilma Melo.

Medidas provisórias na Corte Interamericana

O Complexo de Curado consiste na estrutura física do antigo Presídio Professor Aníbal Bruno, o qual, desde o dia 7 de fevereiro de 2012, foi dividido nas unidades Presídio Juiz Antonio Luiz Lins de Barros (PJALLB), Presídio Marcelo Francisco de Araújo (PAMFA) e Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB). A denúncia apresentada ao Sistema Interamericana de Direitos Humanos aponta violações de:

  • Segurança: mortes violentas e dezenas de denúncias de atos de tortura e rebeliões ocorridas desde 2008; internos com funções disciplinares e de controle de segurança
    (“chaveiros”), autorizados por funcionários estatais; restrições à livre circulação pelos corredores de alguns grupos como LGBTQIA+; agressões contra visitantes por parte de agentes penitenciários; agentes penitenciários feitos de reféns; dezenas de distúrbios ou tumultos, nos quais os agentes penitenciários teriam feito uso de armas de fogo e granadas; posse, fabricação e intercâmbio de armas brancas e de armas de fogo entre detentos; denúncias de exploração sexual de menores de idade que ingressam com identidades falsas;
  • Saúde: centenas de situações de falta de atendimento médico; medicamento e alimentação escassa; falta de material de higiene; altos índices de transmissão doenças contagiosas;
  • Infraestrutura: falta de funcionários estatais suficientes; superlotação (6.456 pessoas privadas de liberdade onde só haveria capacidade para 1.514 pessoas); insalubridade (eletricidade intermitente, princípios de incêndio, o à água por intervalos de tempo, abastecimento de água cortado todas as noites, celas sem luz natural);
  • Controle: prática de inspeções vaginais e anais nos visitantes; falta de investigação dos fatos; falta de resposta judicial efetiva.

 

https://global-br.informativomineiro.com/blog/caso/complexo-prisional-do-curado-antigo-anibal-bruno/

 

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